sábado, 15 de dezembro de 2012

O azul que prometi - poema



 

 O azul que prometi

Eu me lembro de um rosto amigo, onde 
Flores nasciam por todo o jardim,
Na fresca manhã de um outono antigo,
Antes que o sol brilhasse sua luz em mim.

Eu o via se encaminhando, ele me trazia paz;
Seu olhar, sempre dedicado, brilhava ao me ver;
E eu sabia que ele não me poderia amar mais
Assim como a ele eu amava, com todo meu ser.

Nosso jardim florescia por seus cuidados,
Eu o observava, cada gesto por sobre as delicadas flores;
Poderiam nos dizer eternos apaixonados
E, por sua doce presença, eu me perdia de amores.

"___ O bouquet mais precioso do jardim,
a ti dedico, amor meu, meu doce encanto.
Quero ver-te sempre assim
Sorrindo ao meu lado, pois que te amo tanto!..."

Ela sorria, com os olhos fechados, ao meu lado;
Eu a observava, confusa com o que ocorria,
Ele a trouxera pela mão até nosso jardim amado
E me apresentava como a algo que apenas lhe servia.

Ela me olhou, quando sua face se inclinara,
Seu sorriso desfez-se diante dele e de mim;
Ele perguntou se o presente não a agradara,
Eu não compreendia do que se tratava tudo enfim.

"___ Lilás?... Mas que espécie de flor é essa?"
Perguntou ela, desapontada, ao meu amor.
"___ Sei que queiras azul, mas a natureza pregou-me essa peça."
Respondeu ele, acanhado apenas por causa de minha cor.

Eles se foram, discutiam por banalidade,
Eu fiquei ali, imóvel, com o forte amor que sentia;
O jardineiro me cuidava para aquela a quem amava de verdade,
Não era eu, somente agora, dolorido, eu percebia.

À noite ele retornou, sentou-se ao meu lado;
Eu aparentava o mesmo aspecto de sempre
Embora, por dentro, se houvesse, meu coração seria quebrado;
Eu ainda o amava como se eu também fosse gente.

Mas ele não percebeu meu amor, como poderia?
A ele eu era somente uma planta florida do jardim;
Então ele me tocou no bouquet que recém nascia
E, com lágrimas a lhe descer do rosto, disse-me assim:

"___ Sei que não tens culpa de tua cor,
ainda gosto-te com a cor que tiveres em ti;
mas, à ela, não agradaste, minha bela flor,
e eu a amo tanto, mas não pude cumprir o que prometi."

Uma lágrima apenas ele deitou em mim,
Seu sal parecia queimar-me as pétalas lilases,
Eu o observei levantar-se e sair do jardim,
A noite era escura, de lua que mudava suas fases.

O primeiro raio de sol me chegou brilhante
E, com tristeza, lembrava-me de ser a culpada;
Por meu amor ser infeliz naquele instante
E por eu ser apenas uma planta que queria ser amada.

Mas ele chegou sorrindo e se aproximou devagar
Tocou-me nas pétalas e no bouquet que se abria.
"___ Azul, tornaste-te azul, mas como pudera mudar?"
Eu me surpreendi com o que ele me dizia.

Não me sentia diferente, nada parecia mudado em mim,
Mas um amor ainda maior crescia em minha essência;
Ele guardou aquela mágica só para nosso jardim
E, a ela, ele nunca ofereceu aquela amada hortênsia.

 Patricky Field







Nenhum comentário:

Postar um comentário